Sinusite, enxaqueca e intolerância a lactose, o que tem em comum?
Hoje vou tomar a liberdade de usar esse espaço aqui no Papo de Esteira para falar sobre um assunto importante e que muitas vezes pode afetar a vida do atleta, como foi meu caso.
Há muitos (e muitos!!) anos vinha lutando contra rinite e sinusite (até então) crônicas. Anos e mais anos frequentando otorrinolaringologistas, tratando cada crise, conhecendo novos medicamentos (sprays nasais então…praticamente testei todos) e procedimentos, e as justificativas eram sempre as mesmas: clima curitibano.
Os sintomas eram crônicos: dores de cabeça e na face, nariz obstruído ou o oposto (um chafariz!), espirros e um mal-estar sistêmico. Sério gente, diariamente acordava com dores e tinha vontade de realmente enfiar a cabeça na parede para ver se aliviava.
O desconforto era tanto que começou a me prejudicar nas atividades esportivas, principalmente natação (cloro irritava ainda mais o nariz) e na corrida (tinha dificuldades em respirar), além da dor que muitas vezes não me deixava treinar.
Foi indicado, inclusive, procedimento cirúrgico nasal para tentar minimizar um pouco dos problemas. Mas como sempre ouvi prós e contras, estes acabavam me convencendo a esperar mais um pouco.
Ano passado residi em Brasília (seco e quente) e acreditei que me veria livre das cefaleias e enxaquecas crônicas. Mas não. Continuavam incessantes. Foi então que percebi que a culpa não era do clima úmido curitibano como há décadas eu tinha que ouvir (e aceitar).
Em julho do ano passado fui num acupunturista e osteopata japonês (made in Japan mesmo!) tradicionalíssimo daqui. Um verdadeiro Buda que cuida de mim há uns 15 anos com suas agulhinhas mágicas. Fui para dar um jeito na minha cervical e ombro destruídos pela natação na época. Foi então que comentei das dores de cabeça (e que eu acredita ser ou sinusite ou tensão nervosa – sim, sou estressada demais) e de cara ele me disse: “cortar já o leite. Não consome nada de leite.”
Naquele momento achei estranho: “o que o leite tem a ver com minha dor de cabeça???”. Pesquisei a respeito e fui conhecendo muitas explicações e um universo vastíssimo sobre a lactose. Li vários artigos científicos e alguns livros a respeito – com visões bem radicais, por sinal. Tudo na vida é conhecimento e vai de você adotar o que te faz bem, em aceitar o que agrega em sua vida e o resto, deixar passar.
Para tirar todas as dúvidas, na época, conversei com uma amiga que também é nutricionista esportiva e triatleta, a Giovana Leiner, e que me ajudou muito na transição para o mundo sem lactose (não basta cortar, tem que compensar com outros alimento principalmente vitamina A, cálcio e vitamina D). Na época ela me explicou que:
“A maioria das coisas com ” Ite” q é inflamação, a lactose piora. Não q vc tenha realmente intolerância a lactose, mas é uma molécula grande, e a digestão é dificultada e tb a absorção. E isso faz com que vc “inflame”.”
Hoje faz 10 meses que cortei qualquer tipo de laticínio e nesse tempo tive duas crises de enxaqueca – tensionais (stress again!) – e duas infecções respiratórias (faringite e laringite) em razão de queda na imunidade pelo overtraining. Para quem tinha crises diárias, posso dizer sim que cortar a lactose foi a solução para meus problemas não só relacionados às cefaleias e sinusites, mas também gastrointestinais (barriga estufada nunca mais!) e até irritação, pois eu vivia irritada por qualquer coisa e nem percebia. Além do mais minhas taxas de vitamina A, cálcio e vitamina D estão mais altas do que na época que consumia leites e derivados.
Algumas trocas foram complicadinhas, principalmente a adaptação ao mundo sem queijo e sem iogurte. E claro, sem chocolate e sorvete. Também a escolha de produtos que não contenham lactose (principalmente alguns suplementos como a barra de proteína, por exemplo). Venho testando muitas adaptações principalmente relacionadas aos treinos (pré, durante e pós) e descobri muitos alimentos bacanas que podem muito bem fazer a vez de ‘suplemento’.
Óbvio, não foi necessário eu cortar minha vida social. Claro, se posso sugerir locais para jantar, evito pizzarias, por exemplo. Se não há opção, dou uma maneirada na quantidade (porque sei que me faz mal) ou depois tomo a lactase (sob orientação médica!). Como lactase é importada e cara, não dá pra ficar enfiando o pé na jaca sempre. Dessa forma também aprendi a adaptar receitas de gostosuras, usando inclusive o leite lactose zero.
Uma vez que a nutricionista Giovana Leiner* me ajudou muito com a questão do corte da lactose, convidei-a para falar um pouquinho sobre o assunto para nós, respondendo algumas perguntinhas!!
1) O que é a intolerância a lactose? Como ela ocorre?
A intolerância à lactose é a incapacidade do organismo em digerir a lactose. A lactose é um tipo de açúcar encontrado no leite e em outros produtos lácteos.
A intolerância ocorre quando a pessoa nasce sem essa enzima q digere a lactose, ou esta enzima vai diminuindo com o decorrer dos anos, ou também pode ser devido à doenças ou lesões intestinais
2) Quais são os sintomas da intolerância a lactose?
Os sintomas mais comuns são a diarréia (ou à vezes constipação), distensão abdominal, gases, náusea e sintomas de má digestão. A severidade dos sintomas dependerá da quantidade de lactose ingerida assim como da quantidade de lactose que seu organismo tolera.
3) Como saber se posso ter intolerância a ela? Exames ou restringir a dieta?
Em primeiro lugar é muito importante ressaltar que existem níveis de intolerância, pois a quantidade de enzima lactase produzida pelo corpo varia de pessoa para pessoa. Algumas pessoas possuem uma deficiência mínima na produção da enzima, ao passo que outras não a produzem. Isto irá afetar o seu nível de intolerância.
É importante não confundir a intolerância à lactose com outras doenças ou disfunções que podem causar quadro similar.
São elas:
- Alergia à proteína do leite (caseína)
- Síndrome do intestino irritável
- Doença celíaca
- Doença de Crohn
- Colite ulcerativa
- Alergias alimentares
Para quem estiver com suspeita de intolerância à lactose e quiser fazer um teste em casa, basta retirar da alimentação os leites e derivados durante uma semana. Se o desconforto sumir, pode estar aí o motivo.
QUAIS SÃO OS TIPOS DE EXAMES EXISTENTES?
1. Tolerância à lactose: a lactose depois de digerida produz duas moléculas: a glicose e a galactose. Para fazer este teste o paciente ingere em jejum um líquido com dose concentrada de lactose e durante duas horas obtém-se várias amostras de sangue para medir o nível de glicose, que reflete a digestão do açúcar do leite. Se a lactose não é quebrada, o nível de glicose no sangue não aumentará e, conseqüentemente, o diagnóstico de intolerância à lactose será confirmado. Este exame não é indicado para crianças pequenas.
2. Hidrogênio exalado: (em inglês, Hidrogen Breath Test). Este exame mede a quantidade de hidrogênio exalado, que em situações normais é bem pequena. O quadro é diferente quando as bactérias do intestino grosso fermentam a lactose (que não foi digerida) e produzem vários gases, incluindo o hidrogênio, que por sua vez é absorvido e ao chegar aos pulmões e é exalado. Para fazer o exame, o paciente ingere uma solução de lactose e o hidrogênio expirado é medido em intervalos regulares. Níveis elevados de hidrogênio indicam uma digestão inadequada da lactose.
3. Deposição de ácidos: trata-se de um exame indicado tanto para crianças pequenas como para crianças maiores. A lactose não digerida é fermentada pelas bactérias do intestino grosso e produzem ácido láctico e ácidos graxos de cadeias curtas e ambos podem ser detectados em uma amostra de deposição.
4. Exame Genético: este é um exame novo, que promete ser a melhor forma de diagnosticar a intolerância à lactose pois é rápido e não produz sintomas desagradáveis como no caso do exame de ingestão de lactose. Neste exame o paciente retira uma pequena amostra de sangue e seu DNA é estudado para verificar se há mutação em relação à produção da enzima lactase. O resultado sai em 5 dias.
4) O leite é a única fonte de cálcio? Como posso substituir se tiver que parar de ingerir leite e derivados?
O Leite e derivados são ricas fontes de cálcio, mas também temos outras fontes como o atum, salmão, sardinha, brócolis, espinafre, couve, amêndoas, feijão branco, tofu, leite de soja.
Uma boa opção é o gergelim, tanto o torrado quanto o branco, apesar de este ser digerido com mais facilidade. Duas colheres de sopa por dia correspondem a um copo de leite.
5) Para atletas há algum benefício em cortar leites e derivados, exceto para quem não pode ingerir?
Não há benefício em cortar o leite para quem não tem intolerância a lactose, pois o leite e derivados são ricos em água, cálcio, proteínas de alta qualidade, vitamina A e D, fósforo entre outros.
E ela complementa:
Não há tratamento para aumentar a capacidade do organismo em produzir a lactase, mas os sintomas pode, ser controlados com a alimentação e com a ajuda de medicamentos.
Procure a ajuda de médicos e nutrionistas.
Lembrando sempre, caros leitores, que problemas do gênero podem ter diversas outras causas. No meu caso lutei por mais de dez anos contra um problema que tinha causa nutricional e não climática. Embora os médicos sempre tratassem como proveniente da oscilação da temperatura e umidade tradicionais da capital paranaense, a causa era intolerância a um componente alimentar. Assim como a lactose, há muitos outros que também podem desencadear problemas sistêmicos como o glúten (mas este merece um post exclusivo porque é muito vasto e muito amplo! Não será abordado aqui.) e outros problemas que a Gi relatou acima.
Resolvi deixar meu relato pois vejo muitas pessoas sofrendo com sinusites e enxaquecas e sei bem o quanto isso altera as atividades cotidianas. Fica apenas o alerta de sempre investigar as mais diversas causas para um problema.
E sempre consulte seu médico ou nutricionista antes de iniciar uma dieta restritiva!!!
Bons treinos e até a próxima!
*Giovana Leiner é nutricionista esportiva e triatleta.
COMENTÁRIOS NO FACEBOOK
Que bom receber esse eu comentário!!
Olha, eu já tive indicação para cirurgia mas o meu tem o agravante do desvio de septo, que não tem nada a ver com a lactose. O problema é que a lactose “inflama” os tecidos, que incham, formam muco e aí incomodam. Depois que cortei totalmente senti grande melhora, conversei com o otorrino e concordamos em esperar. Agora já introduzi o queijo branco (2 fatias finas/dia). E mesmo assim continuo bem. Mas já tem um ano que cortei drasticamente e tenho outra vida. Sem enxaquecas, rinites, inchaços. Entretanto faço acompanhamento (check up rotina) com exames de sangue e minha dieta foi modificada para compensar o cálcio.
É claro que toda mudança na dieta deve ter acompanhamento médico ou de nutricionista. Jamais fazer por conta!! Cada caso é um caso.
De qualquer forma, que bom que serviu de informação para você…Espero que fique bem!! E sucesso nos seus projetos!
Abraços!